31 de março: dia nacional da saúde e nutrição e de reflexão


No dia 31 de março é comemorado o Dia Nacional da saúde e da nutrição. Além de ser uma data oportuna para pensarmos na nossa própria saúde, alimentação e hábitos, é época também de reflexão para os profissionais discutirem os rumos das profissões de nutrição, gastronomia e alimentação.

O Grupo Executivo de Nutrição (GEN) conversou com duas nutricionistas, formadas em épocas diferentes, para fazer um balanço das mudanças ocorridas no espaço de tempo entre a formação de ambas.

Vice-Presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran) por dois mandatos consecutivos, Virgínia Maria Barroso do Nascimento formou-se no Instituto de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1973. Três anos depois se especializou em Fisiologia Digestiva pelo Instituto de Biofísica da UFRJ. Nutricionista Clínica desde 1974, Virginia é Mestre em Educação em Saúde pela Faculdade de Educação da UFRJ. Atualmente é Diretora Proprietária da Clínica de Orientação Nutricional (Clion).

Gabriella Fernandes Gachet

Formada há três anos em Nutrição pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Gabriella Fernandes Gachet, trabalha com alimentação escolar em uma empresa terceirizada que presta serviços para escolas particulares do Rio de Janeiro. Pós-graduanda em Segurança Nutricional e Qualidade de Alimentos na Gama Filho, ela optou também por cursar Gastronomia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Quase 40 anos depois de formada, Virgínia relembrou o que aprendeu na faculdade, comparando com a grade curricular dos cursos atuais: "De 1974 para cá, o mercado e o ensino evoluíram bastante. Hoje há maiores oportunidades de qualificação técnica e científica para os profissionais de saúde e, consequentemente, para os nutricionistas. Lembro que aprendemos na graduação História da Nutrição, uma matéria que hoje não é mais ensinada", frisa Vírginia, complementando, "naquela época também não aprendemos muitas matérias que são ensinadas hoje, como Bioestatística, Epidemiologia, Psicologia, Avaliação Nutricional, Legislação dos Alimentos, Nutrição Esportiva, Farmacologia, Gastronomia, Marketing, Geriatria e Bioética".Justamente para preencher essa lacuna deixada pelos cursos de graduação - que são generalistas - é recomendado fazer cursos de especialização na área que o profissional deseja seguir.

"Quando tive contato com as matérias voltadas para produção de refeições soube que era nessa área que  queria seguir, mas a formação na faculdade de Nutrição nessa área é muito básica, então quando eu soube da graduação em Gastronomia na UFRJ, resolvi fazer para me aprofundar mais no estudo dos ingredientes, modos de preparo, etc. Esse curso é muito completo, contempla desde matérias sobre gestão, marketing e nutrição até higiene e legislação de alimentos, culinária internacional e confeitaria. Não pretendo deixar de atuar como Nutricionista, no entanto busco obter maior conhecimento para ter maior domínio da área de alimentação, administração e produção de refeições", explicou Gabriella Fernandes Gachet.

Virgínia Maria Barroso do Nascimento
Além dos cursos de especialização de curta e de longa duração, Virgínia indica a leitura permanente de artigos científicos e a participação bienal em congressos científicos para que os profissionais não fiquem para trás no mercado. Diz também que vivemos um momento promissor na área: "A profissão conquistou espaço bem definido entre as 14 profissões da saúde em nosso país. O nutricionista atualizado e competente será capaz de atender aos desafios postos, inclusive porque a política de saúde pública, com programas de governo como o iniciado pelo Fome Zero alavancou muito o reconhecimento do nutricionista", destacou Virgínia.

A nutricionista Gabriella Fernandes Gachet destacou a importância de conhecer as áreas de atuação da profissão e pensar em todas as vantagens e desvantagens antes de optar: "Acredito que quando se é um nutricionista recém-formado, o profissional deve primeiro avaliar qual área da Nutrição ele quer seguir e procurar se especializar e obter experiência de trabalho antes de qualquer coisa. O profissional deve procurar se consolidar na sua área antes de pensar em abrir um negócio, um restaurante ou consultório próprios, para que seja reconhecido e possa ter retorno do seu investimento; quando a pessoa passa a ser conhecida em sua área e na região onde irá atuar será mais fácil obter sucesso", explicou.



Tendências para os próximos anos

Para a Vice-Presidente da Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN), nutricionista Virgínia Maria Barroso do Nascimento, as tendências da profissão são as áreas de Nutrição Esportiva, Marketing, Alimentação Coletiva, Gastronomia em Nutrição e Promoção de Alimentação Saudável. Já as mais promissoras são Marketing e Promoção de Alimentação Saudável.  Aqueles que buscam um emprego garantido devem se especializar em Alimentação Coletiva.

A nutricionista Gabriella Fernandes Gachet concorda: "O mercado de alimentação coletiva apresenta muitas oportunidades, acho que até mais que a área clínica ou de saúde pública, mas acho que poucas pessoas se interessam por essa área", destaca, acrescentando, "Talvez pelo fato de ser um pouco mais estressante, apresentar um alto nível de responsabilidade do profissional (já que lidamos diretamente com os alimentos que as pessoas irão consumir e portanto devemos ter  muita atenção aos aspectos higiênico-sanitários) e ser mais cansativo, pois passamos muitas horas em pé em uma cozinha quente e que muitas vezes não possui a infraestrutura necessária para o preparo de refeições."



Gabriella também pondera que faltam oportunidades no mercado, principalmente na carreira pública. "É necessário que os empregadores proporcionem mais oportunidades aos nutricionistas, com salários justos e condições satisfatórias de trabalho, independente da área de atuação. Na área privada costumo ver mais oportunidades de emprego; quase não há concursos públicos para nutricionista, e quando há, são ofertadas poucas vagas", destacou.

Além disso, ela destacou que o espaço do nutricionista é invadido por profissionais de outras cadeiras: "Vejo a falta de informação da população como o maior obstáculo para o nutricionista no mercado de trabalho. Muitas vezes somos substituídos por profissionais com outro tipo de formação e que exercem a nossa função. Devemos buscar sempre o aperfeiçoamento profissional, buscar o fortalecimento da nossa classe e lutar pela nossa profissão, que é tão importante e que proporciona um leque tão amplo de atuação", frisou.

A internet e a Nutrição
A internet tem sido de grande ajuda para divulgar a atuação do nutricionista, para que ele se informe sobre cursos, palestras e estudos, para que as notícias sobre saúde circulem com maior velocidade. No entanto, a internet também criou muitas lendas urbanas sobre nutrição e saúde. "A população muitas vezes acaba tendo acesso a informações desencontradas, muitas vezes não confirmadas cientificamente (dietas da moda, sucos que "secam barriga", etc.) passadas por pessoas que não possuem formação em Nutrição, podendo trazer riscos à saúde. É necessário que haja ainda mais divulgação sobre a profissão e a atuação do nutricionista, sobre a necessidade de procurar um profissional competente para se consultar, de se contratar um nutricionista para acompanhar a produção de refeições em empresas ou escolas; muitas vezes o público leigo não tem noção da importância da profissão. Sites e redes sociais poderiam facilmente levar essas informações à população, de forma clara e correta", destacou a nutricionista Gabriella Fernandes Gachet.

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Reunião do GEN em fevereiro

Rosa Maria apresenta sua tese 
As integrantes do Grupo Executivo de Nutrição - GEN se reuniram, no último dia 19 de fevereiro, no Conselho Regional de Nutricionistas - 4ª Região (CRN-4), para mais uma reunião mensal. Na ocasião foram debatidos assuntos pertinentes a profissão. O ponto alto do encontro foi a apresentação da tese de mestrado da nutricionista associada Rosa Maria de Sá Alves.



As reuniões do GEN acontecem mensalmente e são abertas aos profissionais das áreas de nutrição, gastronomia e alimentação. Clique aqui e veja o calendário para 2013

Leia a apresentação da Tese apresentada: 

AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR A PARTIR DA REFEIÇÃO ALMOÇO, SEGUNDO A PORTARIA 193/200.

Autora : Rosa Maria de Sá Alves

O presente estudo se propôs a avaliar o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), com base no teor da Portaria 193 (BRASIL, 2006) que abrange não só aspectos da operacionalização do Programa, mas também os valores calórico-nutricionais que devem constar das refeições servidas aos trabalhadores comensais. No caso desta avaliação, a refeição apreciada quanto aos padrões estabelecidos foi o almoço. Participaram desta avaliação 10 empresas localizadas na cidade do Rio de Janeiro e inscritas no Programa. Para fins de participação as empresas indicaram 12 nutricionistas (todas responsáveis técnicas pelas Unidades de Alimentação e Nutrição) e 20 trabalhadores. Os dados foram obtidos através de entrevistas individuais, realizadas a partir de formas equivalentes de dois questionários construídos e validados para tal fim. As questões dos instrumentos, geradas a partir de quadro de critérios, mantiveram-se consoantes ao objetivo da avaliação, à abordagem centrada em objetivos e às três questões avaliativas estabelecidas. O estudo revelou que a operacionalização do PAT, no âmbito das empresas, atende às orientações gerais do Programa, proporcionando especialmente, ao trabalhador de baixa renda alimentação saudável e de qualidade. Quanto os cardápios da refeição almoço apresentam- se em quantidade, qualidade e variedade condizentes aos parâmetros nutricionais definidos pela Portaria 193/2006. Essa avaliação possibilitou fazer o levantamento de aspectos positivos e negativos da operacionalização do PAT. Para o nutricionista no aspecto positivo estão relacionados à possibilidade de se atender aos parâmetros nutricionais da Portaria, de se ofertar cardápios equilibrados e de se certificar um campo de atuação específico da profissão. Para o trabalhador , os aspectos positivos dizem respeito ao atendimento prioritário do trabalhador de baixa renda, ao acesso à refeição de qualidade. Quanto aos aspectos negativos, os nutricionistas destacaram a abrangência do Programa, a falta e acompanhamento, orientação e fiscalização por parte das instâncias oficiais, e o desconhecimento do trabalhador quanto à importância educativa, nutricional, social, econômica e política do Programa. Este último ponto também foi citado pelos usuários como sendo o principal aspecto negativo do PAT. Às conclusões do estudo avaliativo, a autora relacionou um conjunto de sugestões que acredita poder contribuir não só para a mais adequada apropriação do Programa por parte das empresas como também para a maior expansão do PAT na sociedade brasileira.