O Grupo Executivo de Nutrição vai apresentar esse mês uma reportagem especial sobre vegetarianismo. Nós conversamos com a Nutricionista Clínica e Personal Diet Lilianne Medeiros para saber de que forma as pessoas podem deixar de consumir carne sem prejudicar o organismo. Também batemos um papo com a estudante Daniele Miranda, que há mais de sete anos optou por não consumir esse tipo de alimento. Confira.
A nutricionista Lilianne Medeiros |
Grupo Executivo de Nutrição (GEN): Algumas pessoas dizem que a carne vermelha intoxica o organismo. Qual a quantidade e quantas vezes por semana ela pode ser consumida?
Lilianne Medeiros: "O excesso de carne vermelha, assim como o de outros alimentos, pode ser prejudicial ao organismo. Deve-se evitar carnes com capa de gordura e preferir consumir cortes magros (exemplo: patinho, coxão duro) até duas vezes na semana. O importante é ter uma alimentação variada. Pode-se substituir a carne vermelha por carne de frango, ovo ou peixe no decorrer da semana e evitar sempre as preparações fritas."
GEN: Qual a diferença entre o organismo de uma pessoa que consome carne e uma que é vegetariana?
LM: "Não comer carne ou alimentos de origem animal é só um detalhe na alimentação. Um vegetariano pode ter uma alimentação saudável quando há um acompanhamento do seu estado de saúde (exames de sangue periódicos) e da sua dieta. Um vegetariano vegano (ou seja, que não consome nenhum alimento de origem animal) tende a não ter muitos prejuízos com excesso de gordura saturada no organismo, porém isso não é um “atestado de saúde”. Ele pode ter uma alimentação também repleta de erros, carências e excessos, assim como uma pessoa que consome carne e alimentos de origem animal. O segredo sempre é a alimentação equilibrada."
GEN: A alimentação vegetariana pode fazer mal em algum momento? A pessoa pode ficar desnutrida?
LM: "A pessoa pode ter carência de alguns nutrientes, como proteínas de boa qualidade e absorção, vitamina B12 (principalmente os veganos) e ferro. Deve-se garantir ao vegetariano o bom aporte desses nutrientes por meio de uma alimentação balanceada e suplementação. Para melhorar a absorção do ferro, é importante incluir alimentos ricos em vitamina C nas principais refeições, como frutas cítricas ou suco destas (exemplo: laranja, acerola, limão, morango, caju). Também merece atenção a questão das fibras, que podem estar sendo consumidas em grande quantidade. O excesso de fibras pode atrapalhar a absorção de alguns minerais e causar distensão e desconforto abdominal."
GEN: Quais são as opções de comida vegana que substituem a carne sem que a pessoa perca os nutrientes necessários?
LM: "É muito importante buscar a orientação de um nutricionista para atingir as necessidades nutricionais adequadas, evitando carências. Leguminosas, como soja, ervilha, lentilha, feijões e grãos integrais são fontes alternativas de proteínas para os vegetarianos veganos. Já aqueles que consomem leite e derivados e/ou ovos obtêm proteínas também desses alimentos. As leguminosas são ainda fontes de ferro, além dos vegetais verde-escuros (couve, brócolis, espinafre, folha de beterraba, folha de couve-flor). Lembrando que consumi-los juntamente às frutas cítricas auxilia a absorção desse mineral. A vitamina B12 deve ser suplementada no caso de vegetarianos veganos, pois está presente apenas em alimentos de origem animal."
A estudante Daniele Miranda |
Daniele Miranda há sete anos não come carne
Algumas pessoas acabam tornando-se vegetarianas por conta do amor pelos animais. Esse é o caso, por exemplo, da estudante Daniele Miranda, uma das fundadoras da União Libertária Animal (ULA), um grupo independente para estudar e difundir os direitos dos animais e o veganismo. Há sete anos ela parou de comer carne depois de assistir ao documentário Terráqueos (Earthlings), que relata a forma como os animais são abatidos para o consumo humano.
“Sempre gostei muito dos animais, mas achava que consumi-los era algo normal. Quando uma nova amiga vegetariana me questionou ‘Você ama, assassina, fatia e come?’, foi a primeira vez que percebi que algo estava errado e que o vegetarianismo era possível e necessário”, declarou Daniele. “Quando assisti ao vídeo com aquele sofrimento ocorrido longe de nossos olhos, decidi não mais fazer parte dessa exploração e parei de comer animais. Eu expandi meu círculo de consideração moral, antes limitado a cães e gatos.”
Para a estudante não consumir carne vai muito além da causa animal: “Além das questões de saúde e do meio ambiente, não comer animais é mostrar que você não os vê como propriedade. É um ato político e ético contra a opressão justificada pela espécie. De acordo com essa concepção, e conforme fui me informando nas mídias sociais e lendo artigos e livros como Jaulas vazias do filósofo Tom Regan, percebi que o problema não estava apenas na carne, mas em ovos, leite e qualquer outra atividade que se apropriava da vida dos animais para transformá-los em coisas para usarmos. Há sete anos não tomo remédios pois não fiquei doente nesse tempo, resfriados foram poucos e passaram rápido, e a suplementação de B12, que é a única substância que o corpo não produz e não encontramos em alimentos vegetais, ainda estou devendo, mas começarei ainda esse ano. Alguns dizem que se tem que suplementar, não é algo natural, mas diante de tantas coisas que fazemos e ingerimos que não é natural, apontar para esse detalhe é desculpa infundada para se eximir da responsabilidade de mudar e fazer escolhas éticas", declarou.