O veneno à mesa

Brasil é líder mundial no uso de agrotóxicos. 

Consumo elevado pode causar câncer, alerta INCA.


Crédito: CETRA

Um milhão de toneladas de agrotóxicos são despejados nas lavouras do Brasil a cada ano, e terminam em nossas mesas. Hoje, cada brasileiro consome uma média anual de 5,2 quilos de agrotóxicos, provenientes de alimentos transgênicos.  

Os números que mantêm o Brasil desde 2009 como o líder mundial de consumo dos venenos agrícolas, foram divulgados no dia 8 de abril pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), através do “Posicionamento público a respeito do uso de agrotóxicos”.

De acordo com o texto, a liberação do uso de sementes transgênicas no Brasil foi um dos fatores responsáveis pelo país assumir a posição de primeiro consumidor mundial de agrotóxico, pois o cultivo das sementes exige o uso de grandes quantidades desses produtos. 

O documento afirma que a exposição crônica a ingredientes ativos pode causar em longo prazo, câncer, abortos, malformações, infertilidade, impotência, neurotoxicidade, desregulação hormonal e efeitos sobre o sistema imunológico. O fato é preocupante, já que a venda de agrotóxicos no Brasil aumentou cerca de US$ 4,5 bilhões em dez anos.  


Contaminação pode ocorrer durante a gestação ou pelo leite materno.


Crianças expostas a substâncias tóxicas e com o sistema imunológico menos desenvolvido podem se contaminar durante a gestação ou na amamentação. 

Segundo a nutricionista Fabiane Toste Cardoso, coordenadora do curso de Nutrição na UNISUAM - Centro Universitário Augusto Motta, os agrotóxicos são considerados toxinas, e alguns têm características lipofílicas que se acumulam na gordura da mãe, passando do sangue materno para o fetal através da placenta. Já o leite materno pode fornecer uma maior carga de contaminantes, pois é um veículo importante para eliminação de xenobióticos do organismo.   

Porém, é importante ressaltar que a prática do aleitamento materno exclusivo até os seis meses deve ser incentivada, principalmente em países em desenvolvimento, em função das características nutricionais e aspectos imunológicos presentes no leite humano. Fabiane constata que apesar dos riscos, ainda não há comprovação da relação direta da exposição dos agrotóxicos e o desenvolvimento de leucemia e linfoma.

 “Alguns estudos fazem essa associação, pois se acredita numa possível  interação de alguns agrotóxicos com os receptores estrogênicos das células, atuando como falsos hormônios e apresentando potencial carcinogênico. Principalmente com hormônio – dependente (câncer de mama, testículo, ovário e próstata), em função do potencial que alguns agrotóxicos têm de atuar como disruptores endócrinos, produto químico que interfere no sistema endócrino mimetizando um hormônio, podendo bloquear seus efeitos, e estimular ou inibir a produção ou o transporte de hormônios.”     


Evitar alimentos in natura não é a solução

Crédito: O Globo


Se você acha que deixar de lado as frutas, legumes e verduras reduz as chances de contato com os agrotóxicos, está mais do que enganado. Produtos industrializados provenientes do trigo, milho ou soja (bastante cultivados na forma transgênica), tais como biscoitos, salgadinhos, pães, cereais matinais, lasanhas e pizzas, entre outros, também possuem pesticidas. Se o alimento não é identificado como orgânico ou agroecológico, é quase certo que ele tenha sido produzido com o auxílio de agrotóxicos.

A nutricionista Elga Batista, Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos (UFRRJ), explica que o consumo desses alimentos é fundamental para garantir as Ingestões Diárias Recomendadas (IDR) de nutrientes e compostos capazes de prover maior longevidade e melhor qualidade de vida. 

“Assim como foi destacado pelo INCA, cabe ressaltar que não apenas os alimentos in natura veiculam esses contaminantes, mas também os produtos já processados e formulados a partir das matérias primas agropecuárias”, enfatiza.

Para reduzir os riscos de desenvolvimento de tumores, Elga relata que a estratégia mais defendida é a inclusão de alimentos ricos em compostos funcionais, principalmente aqueles com atividade antioxidante, como o açaí, vinho tinto, frutos cítricos, chá verde, acerola, molho de tomate, abóbora, cenoura.

“Essas substâncias têm a capacidade de combater os efeitos deletérios das espécies radicalares de oxigênio (radicais livres), por um mecanismo que, resumidamente, envolve a doação de elétrons a radicais como os potentes peróxidos. Isso estabiliza e impede a ação dos radicais livres sobre a fisiologia celular por minimizar o estresse oxidativo.”, destaca.


Não retire a casca!


Deixar os alimentos em remolho ou desprezar as cascas não são boas alternativas. Elga adverte que esses contaminantes também migram para as polpas dos frutos, e desprezando as cascas perdemos fibras, minerais e outros componentes importantes para a saúde e redução do risco de várias doenças. 
A especialista ressalta que muitas técnicas de preparo dos alimentos, inclusive as caseiras, também são responsáveis por formar compostos com potencial carcinogênico, como é o caso da ebulição da manteiga, que forma a acroleína; a fritura convencional de batatas e a síntese de acrilamida; e o preparo do churrasco e produção de nitrosaminas.


Alimentos orgânicos: melhor opção

Alimentos  frescos orgânicos costumam possuir 20% a menos de água do que os tradicionais.
Isso significa maior concentração de nutrientes. 


A Organização Mundial da Saúde e o INCA prevêem que, em 2020, o câncer se torne a principal causa de morte no Brasil. Além disso, estudos apontam uma relação direta entre o acúmulo de agrotóxico no organismo e a propensão ao desenvolvimento de câncer de mama, de testículos e de fígado.  Por isso, os alimentos agroecológicos, mais conhecidos como orgânicos, são uma excelente opção para evitar a exposição humana aos agrotóxicos. 

Elga lembra que, além de mais saudáveis, os orgânicos costumam apresentar características sensoriais mais atrativas, como sabor e aroma mais intensos do que as matérias primas obtidas por técnicas convencionais de cultivo. Mas revela que os altos preços são o maior obstáculo a esse consumo.

“O ideal seria reduzir ou excluir o consumo de alimentos transgênicos e/ou produzidos com agrotóxicos, industrializados ou não. Já ouvi dezenas de pessoas que adorariam consumir apenas alimentos orgânicos, mas os valores desses produtos são um fator decisivo sobre o poder de compra.”

Nesse contexto, para muitos indivíduos as feiras agroecológicas podem ser uma alternativa.


Fabiane Toste Cardoso
Nutricionista graduada pela UERJ
Especialista em Terapia Nutricional Enteral e Parenteral 
Aperfeiçoamento em Nutrição Materno Infantilno Instituto Fernandes Figueira Mestrado em Fisiopatologia Clínica e Experimental pela UERJ 
Doutorado em Ciências pela UERJ
Atualmente é Coordenadora do Curso de Nutrição, líder Grupo de Pesquisa em Nutrição e Gastronomia-CNPQ e atua como Professora da graduação e do Mestrado em desenvolvimento Local no Centro Universitário Augusto Motta



Elga Batista
Nutricionista graduada pela Uerj
Mestre e doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela UFRuralRJ
Especialista em Segurança Alimentar e Qualidade Nutricional pelo IFRJ
Docente da FABA e da Unisuam

Leitura do Mês:

Microbiota Gastrintestinal – Evidências da sua Influência na Saúde e na Doença



Microbiota Gastrintestinal – Evidências de sua Influência na Saúde e na Doença aborda de maneira abrangente, cuidadosa e detalhada um dos temas mais atuais e palpitantes da Biologia. 

A visão do organismo animal isoladamente não é mais aceitável diante das evidências científicas da interdependência dos macro e microrganismos. Todo o conhecimento acumulado de Ecologia tem sido revisto para acomodar a noção de que organismos ditos superiores são, na realidade, sistemas intrincadamente dependentes de microrganismos que com eles coevoluíram no curso de milhões de anos. 

O livro trata desde as bases microbiológicas necessárias à compreensão das associações biológicas até o uso de probióticos na correção de anomalias oriundas de deficiências nutricionais e doenças ou na prevenção de ambas. 

Discorre, ainda, sobre as técnicas e os métodos de estudos de microbiomas e prima pela compilação cuidadosa de dados coletados como evidências científicas desse tema tão instigante. O respaldo dado por trabalhos de notáveis cientistas, publicados nos mais respeitados periódicos científicos, possibilita que tal área, com relevância questionada até poucas décadas atrás, seja hoje fundamentada por ciência profunda e amplamente acreditada. O impacto desses conhecimentos permeia áreas como a Biologia, a Nutrição, a Bioquímica e a Medicina.


Onde encontrar: http://bit.ly/1KxNdeg  


Sobre as Organizadoras


Alessandra Barbosa Ferreira Machado 

Professora Convidada do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), MG. Pós-doutorado em andamento em Microbiologia pela UFJF, MG. Pós-doutorado em Ciência da Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), MG. Doutorado em Microbiologia Agrícola pela UFV. Mestrado em Microbiologia Agrícola pela UFV. Graduação em Nutrição pela UFV. 

Ana Paula Boroni Moreira 

Professora-assistente da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), MG. 
Doutorado em Ciência da Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), MG. 
Mestrado em Ciência da Nutrição pela UFV. Especialização em Nutrição Clínica pelo Ganep – Nutrição Humana, SP. Graduação em Nutrição pela UFV. 

Damiana Diniz Rosa 

Pós-doutorado em Ciência da Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), MG. Pós-doutorado em andamento em Agricultural and Biological Engineering pela University of Illinois, Urbana-Champaign. Doutorado em Ciência da Nutrição pela UFV. 
Mestrado em Ciência da Nutrição pela UFV. Graduação em Nutrição pela UFV. 

Maria do Carmo Gouveia Peluzio 

Professora-associada da Universidade Federal de Viçosa (UFV), MG. 
Doutorado em Bioquímica e Imunologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestrado em Agroquímica pela UFV. Graduação em Nutrição pela UFV. 

Tatiana Fiche Salles Teixeira 

Doutorado em Ciência da Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), MG. 
Mestrado em Ciência da Nutrição pela UFV. Especialização em Nutrição Clínica Funcion. Graduação em Nutrição pela UFV.


Sumário 
1. O Mundo Microbiano: Evolução e Diversidade 
2. Como Estudar a Microbiota Gastrintestinal Humana 
3. Modelos Animais e Sistemas in Vitro para Estudo da Microbiota Intestinal 
4. Produtos da Atividade Metabólica da Microbiota Intestinal e suas Implicações no Metabolismo Humano 
5. Microbiota do Trato Gastrintestinal Humano: Composição e Fatores Determinantes 
6. Papel da Microbiota na Fisiologia do Hospedeiro 
7. Microbiota Intestinal e Sistema Imunológico: Uma Via de Mão Dupla 
8. Lipopolissacarídeos: Estrutura e Influência sobre o Hospedeiro 
9. Microbiota e Biotransformação de Fármacos e Compostos Bioativos 
10. Microbiota e Doenças Intestinais 
11. Microbiota do Trato Gastrintestinal e Doença Cardiovascular 
12. Microbiota Intestinal, Obesidade e Diabetes Melito Tipo 2 
13. Interações entre a Microbiota Intestinal e o Sistema Nervoso 
14. Probióticos como Adjuvantes Dietéticos na Saúde de Indivíduos Imunodeprimidos 
15. Potencial de Efeitos Benéficos do uso de Probióticos nas Doenças Crônicas 
16. Probióticos e Simbióticos: Aspectos Tecnológicos e Alegações de Propriedades Funcionais