O que pode haver em comum entre 10 mil atletas de alto nível que competem em 42 modalidades esportivas diferentes?
Foto: Matheus Vigliar |
Além da acirrada disputa por medalhas na primeira edição dos Jogos Olímpicos da América do Sul, todos buscam o melhor desempenho e a superação dos seus limites. Utilizam, portanto, o máximo de energia e disciplina em treinos e para isso dependem de uma dieta especial. A equipe que não conta com o profissional de nutrição certamente sai em desvantagem, garante a nutricionista Priscila Moreira, coordenadora da área de nutrição esportiva do Ambulatório de Nutrição Clínica do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo. “A alimentação do atleta e seu estado nutricional influenciam diretamente em sua performance nos treinos e competições”, afirma. “Uma dieta deficiente em nutrientes e energia pode prejudicar o desempenho, além de expor o indivíduo a riscos de lesão, queda do sistema imunológico e redução da massa muscular”, alerta.
Para que a alimentação não se transforme no maior adversário do competidor, o equilíbrio é fundamental na dieta de um atleta de alto nível. De acordo com a nutricionista, assim como a deficiência, os excessos na alimentação também causam efeitos indesejáveis, como aumento de gordura corporal e consequente queda no rendimento. Mas a alimentação muda de acordo com a modalidade.
Dietas específicas
A nutricionista já atendeu atletas de diferentes modalidades, cada qual com sua dieta específica, entre eles maratonistas, ultramaratonistas, triatletas, atletas de remo, nadadores e fisiculturistas. Segundo ela, a dieta do atleta acompanha o nível de atividade física e a energia despendida no treinamento. “Um exemplo claro é a comparação de um maratonista e um levantador de peso. Enquanto um realiza uma atividade aeróbica, onde o gasto de energia é extremamente alto, o outro tem treinamento localizado e específico para força muscular. A dieta de cada um deve atender às necessidades individuais”, explica.
Ainda assim, Moreira defende uma alimentação sem grandes restrições, onde o importante é fornecer macro nutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras) e micronutrientes (vitaminas e minerais). Dentro dessa premissa, os hábitos e preferências pessoais do atleta podem ser respeitados. “A aderência às orientações torna-se até mais fácil, sempre atendendo às necessidades nutricionais”, acredita.
Suplementos e alimentos naturais
A nutricionista é também favorável ao uso de suplementos alimentares na dieta do atleta de alto nível. “São importantes para suprir ou complementar refeições em situações onde a oferta de determinado nutriente não é suficiente ou quando espera-se uma absorção e disponibilidade diferenciadas, principalmente em treinos exaustivos, onde a demanda energética é alta e as necessidades nutricionais também”. De acordo com ela, já existem tecnologias na produção de suplementos para diferentes objetivos e com blends de proteínas, módulos de gordura e tipos de carboidratos diferenciados. Eles possibilitam ao nutricionista esportivo o ajuste ideal para cada atleta e modalidade. “Mas, antes de pensar no uso de qualquer suplemento, sempre priorizamos a reeducação alimentar do atleta”, afirma Moreira.
O planejamento alimentar do atleta de alto nível baseia-se principalmente em consumo de alimentos naturais e integrais, como frutas, vegetais, sementes e cereais, alimentos lácteos desnatados, carnes magras e ovos, mel e açúcar mascavo. A orientação é desencorajar o consumo de produtos industrializados, ricos em sódio, açúcares simples e gordura hidrogenada (gordura trans).
Treino, dedicação, alimentação
Mesmo no período de férias, com a redução do volume de treinamento, o atleta é sempre orientado a evitar excessos, o que se resume a se manter distante de alimentos gordurosos, açúcares e bebidas alcoólicas. A medida visa minimizar mudanças na composição corporal, prejuízos ao trato gastrointestinal e queda da imunidade. “O acompanhamento nutricional deve ser periódico e específico para cada fase. Independentemente dos Jogos Olímpicos, os atletas continuam em treinamento, e participam de campeonatos regionais ou competições internacionais em suas modalidades”, diz a nutricionista, que confirma: “dieta e treinamento estão lado a lado no quesito prioridade, pois o bom desempenho esportivo depende de uma nutrição ajustada à modalidade”. O aspecto nutricional, portanto, é tão fundamental quanto o treino e a dedicação. Na avaliação da equipe de nutrição do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, os atletas tendem a ser disciplinados. “Porém, poucos são bem orientados e conscientizados sobre a importância da dieta para seu desempenho. Infelizmente, no Brasil, ainda temos modalidades esportivas que não contam com uma equipe com nutricionista”, afirma Priscila Moreira.
Por Adriana Menezes
Fonte: Revista Pré-Univesp
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são muito bem-vindos!