O perigo das cores

O que a alimentação tem a ver com a hiperatividade em crianças? E como pode ser prevenida e tratada com uma nutrição correta?




Muitos alimentos destinados ao público infantil usam o artifício do "colorido" para atrair ao olhar — e o paladar— das crianças. Para produzir essa ‘aquarela’ de atrações, as indústrias utilizam os corantes artificiais, sintetizados ou por meio de derivados do petróleo, ou através do alcatrão de carvão. 

E é justamente neste coquetel de corantes que mora o grande perigo para o desenvolvimento de TDAH, a mais frequente desordem comportamental que ocorre na infância, atingindo cerca de 2 a 12% de crianças em todo o mundo, principalmente crianças do sexo masculino. As reações adversas aos aditivos podem se expressar de forma aguda ou crônica, como alergias, alterações no comportamento, e até carcinogenicidade, observada em longo prazo. 

Um estudo recente (McCann et al. (2007)) comprovou a relação da ingestão de corantes artificiais por crianças de 3, 8 e 9 anos com o aumento dos sintomas do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), salientando a importância de uma fiscalização mais eficiente e da necessidade de uma legislação específica para alimentos infantis que utilizem essas substâncias.

De acordo com a nutricionista Luana Limoeiro Ferrão, desde a década de 70, muitos estudos vêm sendo realizados para determinar essa relação, principalmente no público infantil. A maioria dos estudos é dividida basicamente em dois tipos: a eliminação de agentes da dieta que podem interferir no consumo; ou os estudos farmacológicos. 

Os estudos que controlam a dieta são mais complexos, pois é muito difícil o controle de dieta de crianças, além do tempo de estudo de consumo ser muito extenso e a mensuração das respostas qualitativas e subjetivas”, avalia.

Os efeitos tóxicos de tais aditivos químicos no cérebro humano ainda não são bem esclarecidos. O que as pesquisas mostram é que as dietas restritivas são eficazes no tratamento do TDAH, pois ajuda na redução dos sintomas. Na pesquisa publicada no The Lancet os pesquisadores concluem o seguinte: “Nosso estudo mostra efeitos consideráveis de uma dieta de eliminação de alimentos envolvidos no desenvolvimento TDAH. Assim, postulamos que a intervenção nutricional deve ser considerada em todas as crianças com TDAH, desde que os pais estejam dispostos a seguir uma dieta restrita, e desde que seja feita sob a supervisão de especialistas para evitar o desequilíbrio nutricional”.

Acredita-se que os aditivos alimentares, como os corantes, estão relacionados muitas vezes com respostas alérgicas, funcionando como gatilhos para os sintomas de TDAH. Pois estas moléculas químicas ao atingir a corrente sanguínea, são identificadas pelo sistema imune como “células invasoras”, levando à formação de um complexo antígeno-anticorpo. Este complexo pode se depositar no sistema nervoso, causando sintomas psiquiátricos, cognitivos e de comportamento, como TDAH.

Luana Ferrão explica que a partir dos sete anos de idade, os sintomas do TDAH são mais facilmente detectados e estão associados ao diagnóstico de co-morbidades, como transtorno desafiador opositivo, transtorno de conduta, transtorno de ansiedade, transtorno de humor e dificuldades de aprendizagem, que comprometem o desenvolvimento, podendo inclusive interferir no relacionamento social.

A hiperatividade é hereditária, porém a expressão genética não determina se a criança irá desenvolver o TDAH. Os genes precisam ser afetados por determinados fatores ambientais durante as primeiras fases de desenvolvimento do cérebro da criança como a gravidez, o parto e os primeiros anos de vida. É neste contexto que entra a alimentação, desde a vida intrauterina.

O que deve ser evitado


A nutricionista reforça que todos os alimentos que contenham presença de aditivos alimentares, principalmente de corantes artificiais devem ser evitados, como por exemplo, gelatinas, refrigerantes, sucos industrializados, iogurtes e balas.
Reduzir o açúcar simples, presente em doces, sorvetes, bolos e guloseimas e aumentar a ingestão de fibras, com alimentos integrais e frutas em geral, também ajuda a manter a calma e concentração.

Como a nutrição personalizada pode ajudar



A nutrição é uma ferramenta importante no combate ao TDAH, pois reduz a dependência a medicamentos através da reeducação alimentar e introdução de alimentos in natura, aumentando a qualidade de vida da criança. Pode-se, por exemplo, trocar o suco de caixinha pelo natural, e o biscoito recheado por frutas ou bolos caseiros. “Mas é de suma importância um trabalho multidisciplinar para a detecção e tratamento do TDAH, acompanhando a dieta do paciente e reduzindo ao máximo a ingestão de corantes artificiais”, enfatiza Luana.

Algumas pesquisas apontam que o consumo de alimentos com ômega 3 (linhaça, peixes de água fria)  auxiliam na redução dos sintomas de TDAH, pois acredita-se que esse nutriente age diretamente na regulação de neurotransmissores como a serotonina, responsável pela sensação de bem-estar, ação sedativa e calmante,  regulando assim o humor e o comportamento. 

Portanto, corrigir hábitos alimentares e manter um acompanhamento nutricional é o caminho mais indicado no combate ao TDAH.


Luana Limoeiro Ferrão
Nutricionista  e Professora da UNESA
Pós Graduação em Gestão de Restaurantes
Mestre em Ciências dos Alimentos

email: luana.limoeiro.ferrao@gmail.com 

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